sexta-feira, 22 de junho de 2007

Que texto.....

Esse blog é um ambiente de reflexão, sobre alguns aspectos da vida, nunca coloquei textos inteiros de terceiros, mas esse vale a pena. Com a palavra Frei Beto:


LUZ-CREDO

Creio no Deus desaprisionado do Vaticano e de todas a religiões existentes e por existir. Deus que precede todos os batismos, pré-existe aos sacramentos e desborda de todas as doutrinas religiosas. Livre dos teólogos, derrama-se graciosamente no coração de todos, crentes e ateus, bons e maus, dos que se julgam salvos e dos que se crêem filhos da perdição, e dos que são indiferentes aos abismos misteriosos do pós-morte.
Creio no Deus que não tem religião, criador do Universo, doador da vida e da fé, presente em plenitude na natureza e nos seres humanos. Deus ourives em cada ínfimo elo das partículas elementares, da requintada arquitetura do cérebro humano ao sofisticado entrelaçamento do trio de quarks.
Creio no Deus que se faz sacramento em tudo que aproxima, atrai, enlaça, abraça e une ? o amor. Todo amor é Deus e Deus é o real. Em se tratando de Deus, bem diz Rumî, não é o sedento que busca a água, é a água que busca o sedento. Basta manifestar sede e a água jorra.
Creio no Deus que se faz refração na história humana e resgata todas as vítimas de todo poder capaz de fazer o outro sofrer. Creio em teofanias permanentes e no espelho da alma que me faz ver um Outro que não sou eu. Creio no Deus que, como o calor do sol, sinto na pele, sem no entanto conseguir fitar ou agarrar o astro que me aquece.
Creio no Deus da fé de Jesus, Deus que se aninha no ventre vazio da mendiga e se deita na rede para descansar dos desmandos do mundo. Deus da Arca de Noé, dos cavalos de fogo de Elias, da baleia de Jonas. Deus que extrapola a nossa fé, discorda de nossos juízos e ri de nossas pretensões; enfada-se com nossos sermões moralistas e diverte-se quando o nosso destempero profere blasfêmias.
Creio no Deus que, na minha infância, plantou uma jabuticabeira em cada estrela e, na juventude, enciumou-se quando me viu beijar a primeira namorada. Deus festeiro e seresteiro, ele que criou a lua para enfeitar as noites de deleite e as auroras para emoldurar a sinfonia passarinha dos amanheceres.
Creio no Deus dos maníacos depressivos, das obsessões psicóticas, da esquizofrenia alucinada. Deus da arte que desnuda o real e faz a beleza resplandecer prenhe de densidade espiritual. Deus bailarino que, na ponta dos pés, entra em silêncio no palco do coração e, soada a música, arrebata-nos à saciedade.
Creio no Deus do estupor de Maria, da trilha laboral das formigas e do bocejo sideral dos buracos negros. Deus despojado, montado num jumento, sem pedra onde recostar a cabeça, aterrorizado pela própria fraqueza.
Creio no Deus que se esconde no avesso da razão atéia, observa o empenho dos cientistas em decifrar-lhe os jogos, encanta-se com a liturgia amorosa de corpos excretando sumos a embriagar espíritos.
Creio no Deus intangível ao ódio mais cruel, às diatribes explosivas, ao hediondo coração daqueles que se nutrem com a morte alheia. Misericordioso, Deus se agacha à nossa pequenez, suplica por um cafuné e pede colo, exausto frente à profusão de estultices humanas.
Creio sobretudo que Deus crê em mim, em cada um de nós, em todos os seres gerados pelo mistério abissal de três pessoas enlaçadas pelo amor e cuja suficiência desbordou nessa Criação sustentada, em todo o seu esplendor, pelo frágil fio de nosso ato de fé.
Frei Betto

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Na contra-mão

Este é o grande desafio do cristianismo, sempre foi....


Infelismente perdemos o foco, nos conformamos com nossas realidades, embarreirados em ter nossas paredes repletas de diplomas, nossa casa do piso ao teto coberto de bens.
Transformamos o "ide"em venha e o único preço que pagamos é bater nossos cartões socias na igreja finais de semana.
Jesus certamente nos chocaria se estivesse entre nós, muitas vezes defendemos uma bandeira que está guardada no mais sombrio dos quartos da nossa alma, ainda bem que a graça de Deus não nos mede os desempenhos, os erros e acertos ocultos, não nos julga. Simplesmente se apresenta como lenitivo, como algo que de certa forma abranda nossas incapacidades para com o Divino.
Gostaria de terminar com um trecho do livro do Philip Yancey que diz:

"Em um mundo regido pela Lei, a graça se levanta como um sinal de contradição. Queremos justiça;o evangelho nos dá um homem inocente pregado numa cruz, que clama:"Pai, perdoa-lhes".Queremos respeitabilidade; o evangelho exalta coletores de impostos, pródigos e samaritanos.Queremos sucesso; o evangelho inverte os termos, movendo o pobre e oprimido para o centro das atenções e os ricos e famosos para os bastidores."